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a resmiar desde 2005
A lua enche-se de graça para me alumiar o caminho. E eu quintais acima a acorrer ao chamamento urbano onde outros chamamentos também gritam. Agora ainda dia mas bigodes compostos. Que se a noite se deitar ao caminho, já o luzeiro garante que me não perco.
Percorro vales e montes com a calma dos leões de papo cheio, ainda que a janta só me espere no destino. Qualquer gato em passeio comprido prefere comer à chegada, não vá ter de dar uma corrida. Também ajuda não ter bolas de pêlo a revirar o estômago.
Curiosa é a natureza que mete sol e lua no mesmo céu. Como se apenas para nos garantir resguardo entre o dia que se some e a noite que se espalha. Ou talvez apenas para acender a candeia das ideias..
Podemos racionalizar (quase) tudo. A perda, a rasteira, a indiferença. Podemos até racionalizar a traição, o engano ou a rejeição. Podemos quase tudo, desde que o neocortex consiga fechar as algemas nos punhos da amígdala. Arrancar-lhe qualquer receptor químico. Amordaçá-la. Mas esta merda não funciona se, no fundo, ainda estivermos em negação, de uma banalidade que seja. Porque é como uma pedrita dentro do sapato.
Pode um gato armar-se aos cucos e desafiar céu e inferno no mesmo mergulho? Pois pode.
Não fosse a cagufa que me tolhe o esqueleto vadio e um dia destes ia voar com os pássaros...
Não voando no céu pode sempre voar-se no chão. E é pelo chão ladeado de verde e rio que agora me perco de voos rasantes.
A mosca, que até então esvoaçara sempre na toada de uma certa melancolia, parecia doida. Bzzz. Voava e cantava e ziguezagueava e fazia piruetas sem que até então se julgasse capaz de tal. E essa percepção acrescentou ainda mais euforia às razias das corridas.
De repente, bateu de frente contra a janela. Puf.