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a resmiar desde 2005
Vivemos tempos fantásticos de informação na ponta dos dedos, respostas que surgem em cataratas de dados após segundos de busca. Mas é preciso filtrar. E é aqui que a porca torce o rabo.
Quem vier dos tempos em que a internet ainda era ficção, e que por entre portas mal abertas e janelas mal fechadas perde uma data de tempo e às tantas a internet até já está aí. Se ao acordar ainda se levar pelas trombas com uma ingénua pergunta do chefe "T., are you dislexic?" "Am I what?" e descobre que afinal não é mesmo um gajo normal (e não é pela loucura, mais ou menos saudável, que costuma chamar a expressão à conversa).
Se não se for de baixar os braços, vai-se e devora-se a informação toda que se encontra. No início marcha tudo. Depois começa-se a perceber a sua localização na história da evolução humana dos últimos séculos e descobre-se que as coisas, afinal, não são bem assim...
Após uma breve pesquisa no Google, encontra-se uma definição pouco mais do medíocre, na tão procurada Wikipédia (link), tudo é resumido a uma deficiência física. Este informação é histórica e não científica. Era científica no século passado, agora é bolor. O mais estranho acaba por ser o facto de um deslindar de incapacidades descambar numa lista de disléxicos conhecidos, parte dos quais, génios reconhecidos.
Rorschach foi o criador do famoso teste com o seu nome. E aproveito para deixar registado que considero normal que erros sejam cometidos na evolução das ciências humanas, nomeadamente Rorschach há cem anos atrás, mas nada tem de normalidade que apontamentos históricos continuem a ser tomados como científicos, pois é tão ridículo quanto teria sido ignorar Copérnico e continuar a vender Aristóteles.
Rorschach levou a sua àvante na década de vinte do século passado, quando a investigação neurobiológica ainda aguardava o avanço tecnológico que a levasse, como tem levado, em frente. Mas cedo começou a perceber-se que a dislexia (dis=dificuldade; lexia=palavra) se revela na dificuldade de interpretação dos símbolos da linguagem escrita, mas é sempre acompanhada por um pensamento fortemente visual. Até aos anos 70 apenas as questões relacionadas com a linguagem foram consideradas, e as congénitas e genéticas deficiências físicas que dificultassem a sua aprendizagem e utilização foram-lhe associadas. Quanto aos talentos criativos, de lógica e matemática aplicada, até alguns anos atrás, não tinham sido considerados.
O famoso, mas obsoleto desde a sua concepção, teste de Rorschach, que alguns ainda vendem e defendem, continua a ser combatido, porque o risco que representa de prejuízo pessoal grave para o individuo considerado deficiente, parcial ou totalmente, pelo duvidoso e pragmático teste não é considerado por quem o defende. O pensamento visual é logicamente diferente, e permite um nivel de criatividade inovador. Permite. Não significa que todos os disléxicos sejam génios. Mas antes que têm capacidades que devem ser exploradas e aproveitadas.
A neurobiologia explica os fenómenos bio-químicos do nosso cérebro e sistema nervoso, e a relação causa-efeito que os induz. A óptica intra-ocular não será o único processo a acender a tela de projecção dos pensamentos, e actividades como a comunicação, processando-se em pleno mesmo numa base visual, também induzem quimicamente o cérebro e a projecção de imagens acontece. O processador é de igual potência, o sistema operativo é mais gráfico. So what.
Finalmente, o motivo deste texto: Um livro que comecei a ler hoje: In the Mind's Eye: Visual Thinkers, Gifted People With Dyslexia and Other Learning Difficulties, Computer Images and the Ironies of Creativity (Hardcover) que pode ser consultado aqui e adquirido aqui. A informação existe em todo o lado. A procura deve ser objectiva. E o sentido crítico deve estar sempre ligado.